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Esta semana é presenteada com o lançamento da primeira curta metragem, que eu prefiro chamar de video-dança, da artista britânica FKA Twigs.


Com a duração de 16 minutos e 33 segundos, FKA Twigs, com a sonoridade eletro que é tão característica no seu trabalho discográfico, na minha opinião excelente, inicia-nos numa viajem no seu mundo obscuro.



No meio da penumbra avista-se uma luz que revela uma figura feminina envelhecida que se pode identificar com a mulher cigana pelas suas vestes, bijutaria e dentes de ouro. A luz que revelou a figura acompanha-a na sua frente assemelhando-se ao peixe-diabo, cientificamente conhecido por Melanocetus Johnsoni, um peixe que vive nas regiões abissais do nosso planeta onde habitam outras bizarrices impressionantes. A cigana dança ao som da música que se ouve melancólica. Nesta dança do 'diabo' a cigana ritualiza um momento sexual engolindo a luz que transporta. Desta ação é expelido um corpo estranho arredondado da sua boca que creio ser uma espécie de óvulo.

Na aproximação à luz que emana deste óvulo, é revelado um corpo em metamorfose que parece feito de plástico, fazendo lembrar as bonecas insufláveis. Este corpo vai se enchendo e tomando forma. Surge na cena um homem que respira desejo. Uma cama com uma boneca insuflável sugere de forma antecipada o ato. Claramente nesta cena fala-se da submissão sexual da mulher e do corpo objeto. FKA Twigs encarna a boneca e uma cena de sexo surge onde a fronteira entre a boneca e o prazer carnal é evidente porque por vezes vemos partes do corpo da boneca insuflável e outras a cara da FKA Twigs. Depois do ato o corpo é deixado seco, desprezado, sozinho, usado.

O corpo seco liga-nos à próxima cena. FKA acorda e surpreende-se com o seu próprio corpo que apresenta uma barriga redonda cheia de vida, mas parece não aceitar. Surge nova música que nos conta uma história sobre o dilema de uma mãe jovem grávida que deseja que o pai da criança aceite viver e criar esta nova vida com ela. No desenrolar deste dilema, surgem umas coreografia de grupo que simbolizam o momento de apoio, provavelmente, de amigas próximas e familiares, que me parecem um pouco despropositadas. Após tantas dúvidas, FKA Twigs aborta escorrendo-lhe tinta de cores vivas pelas pernas abaixo. Ela surge novamente livre. Um homem triste chora em desacordo com o sucedido. Uma carrinha branca aparece com uma mancha de sangue na porta à medida que somos transportados para as imagens de uma floresta.

FKA surge grávida novamente dentro da carrinha branca, sugerindo uma morte. Panos coloridos esvoaçam entrevendo-se corpos androgenésicos. Uma campa irrompe e nela agiganta-se um palco-passerelle onde acontecem desfiles e coreografias como se trata-se da celebração da sua própria morte.


E assim termina o video-dança... com esta celebração.


Numa análise curta ao vídeo-dança, não me parece que haja bons argumentos que o torne relevante, nem pelo tema nem palas propostas imagéticas, nem mesmo pelas personagens e muito menos pelas coreografia. O tema, muito 'batido' é mastigado com coreografias pop que colam-se à camada da imagem. Não me parece que se possa considerar um bom vídeo-dança pelo tema apresentado, porém, tecnicamente e por algumas propostas que apresenta, por exemplo, da cigana logo no início, torna-se pontualmente interessante.

Não é um vídeo que me prenda. Contudo, pela novidade no trabalho desta artista que admiro, por quebrar com conceitos de beleza associados à pop music, achei que seria bom dar-vos a conhecer.




Unknown

Sou uma pessoa persistente e exigente consigo própria. Trabalho na área criativa e tenho um especial gosto em analisar-me, não no sentido narcisista, mas antes psicológico. Gosto de me sentir a evoluir, e aproveito todos os dias para aprender algo novo. Não sou de sair e de estar em grande grupos. Sou um bom amigo (pelo menos é o que dizem).

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