Comediante por uma noite
Não sou conhecido por ter piada, antes pelo contrário, quando estudava era conhecido pelo 'Reis das Secas'. Pelos vistos este selo de qualidade e distinção permanece até aos dias de hoje, mas isso não é uma coisa com a qual eu me sinta desconfortável. Antes isso que ser conhecido por outra coisa qualquer como 'o piscinas' por lançar fartos e húmidos perdigotos, daqueles que por serem demasiados era quase preciso abrir um guarda-chuva para manter uma conversa com alguém (sim, com hífen entre as duas palavras 'guarda' e 'chuva'!).O que me traz aqui é precisamente um sonho que tive hoje e que por ter sido tão distante da realidade, daquilo que realmente sou, mereceu ser registado. Pois eu sonhei que era um desconhecido comediante que concorria a um casting de talentos, daqueles que agora se multiplicam na televisão - até agora nada de impossível. Quando fui chamado a mostrar o que valia o meu humor eu até tive uma prestação 'engraçadita'. Vou tentar explicar o melhor que conseguir:
Entrei em palco acompanhado de uma música épica cinematográfica com bastante carga dramática. O júri estava sentado com uma mesa e cadeiras improvisadas. O público estava na plateia a assistir. Para ajudar a criar a imagem do espaço, imagina que estás numa sala de teatro e que estás a ver um cromo a entrar no palco a dirigir-se da esquerda para a direita em direcção a uma mesa e cadeiras improvisadas com 4 marmanjos trombudos e mal encarados. É isso mesmo. Então lá ia eu um pouco a medo enquanto a música se intensificava. Enquanto ela crescia eu ia cedendo a esmagora atmosfera criada pela música, tornando-me cada vez mais pequeno, e quando ela atinge o momento alto, eu, num gesto em que uma mão tapava um ouvido e a outra se dirigia para um vazio, faço um gesto de diminuir o volume do som e a música acompanha surpreendentemente (nunca tinha reparado que esta palavra era bem esticadinha, poxa!). Depois eu com aquele ar à Mr. Bean a olhar para o público soltei um riso baixo e tímido e limpei os ombros como quem cumpre o seu objetivo. Voltei a cabeça para o Júri e aí comecei a apresentar-me gaguejando de forma compulsiva tal e qual um senhor que naqueles 'apanhados' da TVI que está no youtube: https://youtu.be/AUwzR5hgotQ?t=2m48s. Depois de um longo e exaustivo minuto a gaguejar disse ao júri de forma pausada, serena e bem colocada, assertiva e objetivamente e sem gaguejar: Desculpem isto é do nervosismo. E continuei a gaguejar como havia feito no último minuto. A reação do público foi de gargalhada geral.
Depois seguiram-se alguns truques em que a palavra era quase ausente e que o corpo serviu um espectáculo que culminou em aplausos e elogios.
Claro que isto nunca se passaria assim na realidade. Eu só para começar, sou muito recatado, e pouco dado a estas aventuras. No entanto quando estou com amigos gosto sempre de invocar a minha maior qualidade e lá sai uma ou duas secas (estou a exagerar... são muitas mais). Contudo e porque gosto sempre de fazer conclusões com aquilo que experiencio, daqui retiro que há um lado meu que encontra prazer em fazer rir o outro. E isso para mim é que é a reflexão e postura corretas para lidar com as problemáticas sociais atuais, em que cada vez mais se vê toda a gente cada vez mais ausente de uma realidade partilhada para uma virtualidade real.